sábado, 30 de abril de 2011

Viva 'Rio'

Como o espaço aqui é democrático, optei por começar o blog com uma pequena licença poética. Os mais radicais vão pensar: “Mas isso aqui não é um blog que trata exclusivamente de cinema NACIONAL?”. Eu sei, eu sei: as críticas – se existirem – são muito pertinentes. Mas como virar as costas para o filme mais comentado do ano até agora, ainda mais quando ele retrata a cidade mais popular do Brasil e foi concebido e produzido por um carioca de Marechal Hermes? Então, dêem licença e abram alas, porque ‘Rio’ vai passar.

Para quem ainda não viu o filme, faço, antes de tudo, um alerta: para o seu bem, veja dublado. Fiz a asneira de ver legendado, me baseando na seguinte teoria: se o filme foi feito em inglês, vou ver no original. Me arrependi. É, no mínimo, estranho ver personagens brasileiros falando entre si, no meio de uma paisagem tipicamente carioca, em inglês. Sei que não dá pra reclamar, afinal o estúdio é americano, o filme é feito para crianças, não dava para fazer o filme em português no original. Por isso, só aconselho: veja em português, é muito mais legal.

Já que comecei criticando, continuo nas críticas. Outro ponto que não dá para deixar de notar é o reforço dos estereótipos criados em relação ao Brasil no filme. Por ser brasileiro, nascido e criado em um bairro da Zona Norte, esperava que Saldanha mostrasse para o mundo um Rio mais verdadeiro e menos caricato, deixando de lado – ou ao menos, suavizando – a trindade samba-bunda-caipirinha tão explorada no mundo inteiro e tão questionada por nós, brasileiros. O segurança fortão que não vê a hora do expediente acabar para cair no samba, a desorganização do Carnaval carioca, onde qualquer pode entrar e sair desfilando, e a família de tucanos que vive dentro da cidade – colaborando com a noção do Rio como “lugar pouco explorado pelo homem, onde natureza e civilização andam de mãos dadas” – soem como pequenos exageros para olhos e ouvidos cariocas. Por isso, faço coro a algumas críticas que já li sobre o filme e apelo: Saldanha, em seu próximo projeto, passe mais um tempinho no Brasil. Talvez depois de algumas cervejas no Grajaú, um ‘Rio’ mais Rio possa nascer.

Vejam em português, é muito mais legal.

No entanto, o longa é uma animação feita para crianças. E é aqui que eu queria chegar. Como filme infantil, ‘Rio’ é arrebatador. Os cenários foram feitos com esmero e altas doses de realismo, uma bela homenagem à “Cidade Maravilhosa”. Estão lá o Cristo Redentor, Santa Teresa, a Vista Chinesa, a orla, a Lapa e até a favela. Para os olhos, ‘Rio’ é deleite certo. E sua história também é envolvente, mistura romance (os dois casais da história, tanto o humano quanto o de ararinhas azuis, Blu e Jade, são irresistíveis), comédia (os macaquinhos pivetes são ótimos) e aventura, com bons requintes de crueldade, afinal um bom vilão é fundamental – e Nigel, uma ave de rapina feia e imponente, cumpre bem o papel, chegando a dar calafrios em algumas sequências.

Por tudo isso, deixo de lado os deslizes e bato palmas de pé para Saldanha e sua ararinha azul, que além de terem me divertido por uma tarde, conseguiram levar a todos os cantos do mundo a beleza e a magia da cidade mais linda do mundo.

Apaguem as luzes!

Se você acha que o cinema nacional se restringe a Capitão Nascimento e Zé Pequeno é melhor pedir pra sair já. Ou melhor, não saia, não. Fique e seja bem vindo ao “Vai pro Saco”. Aqui tudo o que é relacionado à sétima arte produzida no Brasil será abordado e posto em questão.

Na nossa sacola, é possível encontrar desde as últimas notícias sobre os próximos lançamentos até críticas dos filmes que estrearam na semana, passando por algumas indicações e dicas dos melhores – e piores – filmes produzidos nesse simpático país ao sul do Equador.

Portanto, se esparramem na poltrona, deixem a pipoca e o guaraná a tiracolo e desliguem os aparelhos celulares que o filme já vai começar.