quarta-feira, 25 de maio de 2011

Luxo e lixo

Sei que a dica está mais do que atrasada. Mas como o blogueiro também estava, o atraso se explica, mas definitivamente não se justifica. Ainda não consegui encontrar desculpas para meu atraso de quase um ano com “Lixo Extraordinário”. Com certeza não foi por falta de informação, afinal a co-produção britânico-brasileira andou freqüentando com – merecida – assiduidade as manchetes e acabou por elevar a condição de celebridade o líder da categoria dos catadores de lixo de Jardim Gramacho, Tião Santos. Nem tampouco por falta de referências. O prêmio de melhor documentário em Sundance e a indicação ao Oscar já dispensam maiores comentários.

Tenho um palpite: talvez a presença de Vik Muniz como personagem central tenha sido um dos motivos de meu preconceito. Até porque, por vezes, sua genialidade – que admiro e reconheço – soa um tanto quanto presunçosa e publicitária. Por isso, no meu primeiro contato com o filme, através de trailers e cartazes, pareceu-me que se tratava de um arroubo de autopromoção do artista. No final de contas, percebi que tudo foi uma grande besteira. Deveria ter visto o filme antes.

Com um ano de atraso, o que mais me impressionou foi a grande virada que se dá no desenrolar da história. Enquanto no início, o filme parece narrar mais uma das aventuras de Vik Muniz – dessa vez, o artista, procura dar sentido a sua arte mudando a realidade de catadores de lixo do aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro – de repente o espectador se vê envolvido pela história de vida de personagens fantásticos, que acabam tendo suas histórias de vida expostas na narrativa. Esse é o grande acerto da produção: conseguiu encontrar boas histórias. E boas histórias conseguem sustentar qualquer filme – contato que tenham uma boa direção e, no caso o trabalho de câmera de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley é primoroso.

Imagem feita a partir de lixo do catador Tião Santos

Da ingenuidade cômica e inteligente de Seu Valter à força contestadora de Tião, o que o espectador vê diante de seus olhos é uma transformação. Enquanto, no início, os catadores de lixo parecem até fazer parte da paisagem, no fim, elas são gente. E é dessa identificação que vem a grande lição do filme, simbolizada pela frase da personagem Irmã, na estreia da exposição de Vik no Museu de Arte Moderno do Rio. Ela nunca tinha entrado em um museu e um retrato seu feito com lixo do aterro sanitário era um dos grandes destaques da mostra, elogiada por críticos de todo mundo. “Às vezes a gente se põe tão pequeno e as pessoas lá fora acham a gente tão grande, tão bonito”, diz a cozinheira, acanhada, cercada por microfones. O choque de realidade é tão duro que é impossível passar indiferente pelo filme. Recomendo a experiência e a reflexão.

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