Tenho um palpite: talvez a presença de Vik Muniz como personagem central tenha sido um dos motivos de meu preconceito. Até porque, por vezes, sua genialidade – que admiro e reconheço – soa um tanto quanto presunçosa e publicitária. Por isso, no meu primeiro contato com o filme, através de trailers e cartazes, pareceu-me que se tratava de um arroubo de autopromoção do artista. No final de contas, percebi que tudo foi uma grande besteira. Deveria ter visto o filme antes.
Com um ano de atraso, o que mais me impressionou foi a grande virada que se dá no desenrolar da história. Enquanto no início, o filme parece narrar mais uma das aventuras de Vik Muniz – dessa vez, o artista, procura dar sentido a sua arte mudando a realidade de catadores de lixo do aterro sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro – de repente o espectador se vê envolvido pela história de vida de personagens fantásticos, que acabam tendo suas histórias de vida expostas na narrativa. Esse é o grande acerto da produção: conseguiu encontrar boas histórias. E boas histórias conseguem sustentar qualquer filme – contato que tenham uma boa direção e, no caso o trabalho de câmera de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley é primoroso.
Imagem feita a partir de lixo do catador Tião Santos |
Da ingenuidade cômica e inteligente de Seu Valter à força contestadora de Tião, o que o espectador vê diante de seus olhos é uma transformação. Enquanto, no início, os catadores de lixo parecem até fazer parte da paisagem, no fim, elas são gente. E é dessa identificação que vem a grande lição do filme, simbolizada pela frase da personagem Irmã, na estreia da exposição de Vik no Museu de Arte Moderno do Rio. Ela nunca tinha entrado em um museu e um retrato seu feito com lixo do aterro sanitário era um dos grandes destaques da mostra, elogiada por críticos de todo mundo. “Às vezes a gente se põe tão pequeno e as pessoas lá fora acham a gente tão grande, tão bonito”, diz a cozinheira, acanhada, cercada por microfones. O choque de realidade é tão duro que é impossível passar indiferente pelo filme. Recomendo a experiência e a reflexão.
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